hélio marginal, um dos nomes mais importantes da arte brasileira de todos os tempos, Hélio Oiticica (1937-1980) cunhou a polêmica frase “Seja marginal, seja herói” num trabalho em que a figura central era o bandido Cara de Cavalo, morto, estirado no chão.
Como poucos, Oiticica transitou entre as culturas de vanguarda e popular, bebendo em ambas as fontes sem a menor cerimônia.
Sua arte é hoje objeto de análise de estudantes, estudiosos e entusiastas da história da arte brasileira e mundial.
Nos anos 50, Hélio Oiticica pintava ao som de Ângela Maria e Cauby Peixoto, e na década seguinte freqüentava o morro da Mangueira, tornando-se passista da escola de samba.
Nos anos 70, morando em Nova York, radicalizou fazendo biscates. Trabalhou inclusive para o tráfico de drogas e quase teve o mesmo fim do bandido que celebrizou.
Inadimplente junto à máfia, Oiticica recebeu um ultimato: “Ou paga a dívida ou é um homem morto”.
Os irmãos Cláudio e César – que desde 1996 dirigem o Centro de Artes Hélio Oiticica, no Centro do Rio – pagaram a conta e o livraram da morte.
Em cartaz até julho no Centro de Artes Hélio Oiticica, a exposição Penetráveis oferece ao público a oportunidade de vivenciar a obra do artista, dela fazendo parte.
A mostra reúne seis trabalhos da série Penetráveis, que ocupam os três andares do Centro de Arte Helio Oiticica, entre elas o inédito Macaléia, produzido a partir de anotações, esquemas e textos conceituais que Oiticica escreveu compulsivamente.
Hélio definia seus Penetráveis como “obras nas quais o espectador participa entrando, andando por elas, manipulando portas e/ou placas”.
Algo radicalmente novo se comparado às linguagens tradicionais da pintura e da escultura. Hoje, tais proposições encaixam-se em categorias como instalação e site specific, que lidam com a ocupação do espaço expositivo e seu entorno.
Alguns desses núcleos, criados a partir dos anos 60, são compostos por placas de madeira pintadas com cores quentes, penduradas no teto por fios de nylon.
Neles tanto o deslocamento do espectador quanto a movimentação das placas passam a integrar a experiência. Há sons, cheiros, texturas, sabores e convites à experimentação.
A arte sensorial deve muito à obra de Hélio Oiticica, que, para críticos internacionais como Guy Brett, representa uma genuína mudança de paradigma que impacta radical e profundamente a arte mundial.
Recentemente, Hélio Oiticica mereceu destaque na mostra Open Systems, em cartaz na Tate Modern, em Londres. Seu Projeto Filtro – para Vergara NY 1972, um labirinto com paredes e portais transparentes feitos de filtros coloridos de plástico, chapou a todos.
Nada mal para alguém que ampliou a fronteira da arte moderna sendo ao mesmo tempo marginal, herói e genial. Para Brett, “Helio foi protagonista do período mais inventivo da arte brasileira.
Suas proposições representaram não somente uma ruptura com a tradição concreta, como também um rico exercício de experimentação, para ele e o público.
Foi algo que repercutiu não somente no Brasil, como em boa parte do mundo, e que até hoje desperta o interesse de quem se dedica a acompanhar a história da arte”.hélio marginal.
Foto em destaque : Ivan Cardoso