Roberto Carlos em ritmo de aventura
Olhando agora, parece difícil de acreditar. Mas antes do TOC, da Maria Rita, do terno azul e do fervor religioso, Roberto Carlos foi o maior astro da cultura jovem brasileira.
O rumo do cantor que imitava João Gilberto começou a mudar quando o manda-chuva da CBS, Evandro Ribeiro, comandou a troca da bossa nova pelo rock. Recheado de versões tupiniquins para hits americanos, o disco Splish splash, de 1963, foi o passaporte para o estrelato.
Com hinos “rebeldes” como Parei na contramão e É proibido fumar, Roberto começava a encher ginásios de brotinhos histéricos com o novo som dançante.
O cantor foi ponta-de-lança de uma transformação no rádio brasileiro. As transmissões ao vivo, com suas orquestras e grandes cantores românticos, davam lugar à era do LP.
Para encurtar o caminho da fama, Roberto Carlos improvisou um esquema de autodivulgação: recrutou um grupo de 20 garotas que passavam o dia inteiro ligando para as emissoras e pedindo as suas músicas.
O futuro Rei fazia o mesmo, pendurado no orelhão de uma farmácia no subúrbio carioca de Lins de Vasconcelos, onde morava.
“Era uma façanha: ligar rápido, disfarçar a voz, inventar um nome, pedir a música, ligar de novo com outra voz e outro nome”, delata o biógrafo Paulo César de Araújo.
A sorte não demorou a sorrir para o garoto de Cachoeira de Itapemirim que desembarcou no Rio com o sonho de ser popstar. Em 1965, um mandado de segurança impediu a TV Record de transmitir ao vivo — e de graça — os jogos de domingo do Campeonato Paulista.
De olho no sucesso dos Beatles, uma agência de publicidade reservou o horário do futebol para lançar o programa que impulsionaria de vez a carreira de Roberto: a Jovem Guarda.
O novo ritmo se revelava um grande negócio. E o cantor, ladeado pela jaqueta de couro de Erasmo e pelas botas reluzentes de Wanderléa, era o produto mais valioso na prateleira.
Para encher os cofrinhos, o trio lançou as grifes Calhambeque, Tremendão e Ternurinha, que reproduziram a febre em roupas e brinquedos patenteados.
Mas faltava um ingrediente na receita consagrada 20 anos antes por Elvis Presley, a quem Roberto imitava nos primeiros shows: o cinema.
Roberto Carlos voando de helicóptero
O sucesso do thriller Assalto ao trem pagador (1962) credenciou o diretor Roberto Farias a transformar o Elvis brasileiro em astro da tela grande.
E ele contou com orçamentos milionários para cumprir a missão. No primeiro filme da série, Roberto Carlos em ritmo de aventura (1967), o Rei tenta salvar a própria pele de sequestradores estrangeiros.
Dirige um carro pendurado num guindaste, atravessa o Túnel do Pasmado no comando de um helicóptero e chega a pilotar um foguete da Nasa, em cenas filmadas no Cabo Kennedy, na Flórida.
As sequências de ação são alternadas com números musicais, como o hit Quando, executado no alto de um prédio — alguém já viu essa cena antes com um certo quarteto de Liverpool?
A segunda superprodução, Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa (1968), bate o recorde no quesito enredo esdrúxulo.
Ao lado de Erasmo, o Rei é escalado para recuperar uma estatueta que guarda o esconderijo de um diamante levado para o Brasil por navegantes fenícios.
De quebra, luta com samurais e resolve o rapto (de novo ele) de Wanderléa, em cenas gravadas em Israel, Japão e Portugal.
Fim da trilogia de filmes de Roberto Carlos
O último capítulo da trilogia, Roberto Carlos a 300 km por hora (1971), marca a volta dos pés ao chão — pelo menos no sentido literal. Na pele do mecânico Lalo, o Rei vive a clássica saga do garoto pobre em busca de um sonho.
Assume o carro de corrida do patrão, vivido por Raul Cortez, e de quebra fatura o grande prêmio de Interlagos e a mulher do chefe.
O filme também dá pistas da mudança na trajetória do cantor que, nos anos seguintes, trocaria o cetro da Jovem Guarda pelo manto de soberano do brega-romântico.
Nascia o Rei versão anos 70, voz onipresente nos rádios de cabeceira de motel. Na década posterior, ele purgaria os pecados ao enveredar pela seara religiosa.
Vistas hoje, as proezas de Roberto Carlos no cinema soam tão subversivas quanto um filme dos Trapalhões — não por acaso, o diretor Roberto Farias comandaria uma aventura dos humoristas nos anos 80.
Apesar do sucesso nas bilheterias, as produções perderam importância na trajetória do cantor: tiveram um relançamento discretíssimo em DVD e mal aparecem na polêmica biografia não autorizada.
Os parceiros da Jovem Guarda se afastaram, à exceção do tradicional programa de fim de ano na TV. Quarenta anos depois do primeiro filme, a passagem do Rei pelo cinema sobrevive apenas como registro de uma época curiosa. Basta rever Roberto Carlos em ritmo de aventura, em que o passeio aéreo pelo Rio de 1967 envelheceu bem melhor do que as estripulias do protagonista.
Veja a cena de Roberto Carlos em ritmo de aventura:
Roberto Carlos foi mesmo o rei da juventude brasileira,e depois o rei da música popular-romântica.Só não devemos classificá-los de rei da MPB,coisa que ele nunca foi.Geralmente são os artistas-populares que ganham o título de rei.A elite da nossa música sempre dispensou tal rótulo.
Eu, nunca gostei desse cara ainda mais agora que mumificou ,parou no tempo e no espaço, ainda mais agora apoiando outra fezes,
Dilma e governo Petralha,
Melhor apoiar quem te manda trabalhar 12 horas por dia e 49 anos pra não se aposentar, né, papagaio?