Vida de Professor é Dureza

Recebemos este artigo de nossa leitora Aline de Andrade Ventura, terminando a licenciatura em letras, futura professora. Acho que diz tudo sobre as dificuldades que enfrenta o verdadeiro herói nacional (nunca lembrado) que é nosso professor. A esperança de que nossos homens públicos algum dia entendam que NADA vai acontecer enquanto a educação for vista como uma das últimas prioridades do país fica viva entre nós, os otimistas. TODOS os países do mundo parecem entender isto, então algum dia vamos entender também, certo? Aqui vai.

OS DESAFIOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL II NAS ESCOLAS PÚBLICAS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19

Aline de Andrade Ventura

 

RESUMO

Quando houve o estouro da pandemia do Novo Coronavírus, se instituiu o isolamento social de modo a diminuir a disseminação do vírus e, com isso, mudou-se a modalidade da educação brasileira na esperança de manter a educação. As escolas passaram a trabalhar com o ensino à distância e como não houve tempo para se preparar, diversas dificuldades surgiram, tanto na rede privada, como na pública. A educação pública sempre enfrentou dificuldades em virtude do pouco investimento feito na área, mas durante a pandemia elas ficaram ainda mais evidentes. Sendo assim, o presente artigo tem por finalidade apresentar alguns dos desafios enfrentados por professores de língua portuguesa atuantes nos Anos Finais do Ensino Fundamental da rede pública no período da pandemia do Novo Coronavírus.

 

1 INTRODUÇÃO

Em fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso importado (Itália) de Covid-19 — o novo coronavírus — em território brasileiro. Desde então estamos lidando com as consequências desse vírus que chegou ao nível de pandemia devido sua gravidade e rápida disseminação. Para conter o avanço da doença, a OMS (Organização Mundial de Saúde) recomendou que fosse adotado o isolamento social. Com esta medida, as escolas fecharam, mas a educação não parou. Os docentes tiveram de se adaptar às aulas remotas, assim como seus alunos e as respectivas famílias. Apesar da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) contemplar a produção de gêneros comuns em meio eletrônico nas aulas de língua portuguesa e a criação, compreensão e utilização de tecnologias digitais para fins educativos, muitos educadores e famílias não estavam preparadas para a mudança radical do panorama da educação nacional provocada pela pandemia.

Para elaboração do presente artigo, foram realizadas a leitura e seleção de notícias e informações relevantes quanto a situação da educação durante esse período. Segundo essas pesquisas, os docentes da rede pública são os que tem enfrentado maiores dificuldades ao se adaptar à nova realidade.

Através de contato pessoal com colegas e professores da rede pública, buscou-se entender quais os reais desafios enfrentados ao lecionar a disciplina de língua portuguesa após as medidas que foram tomadas para manter a educação sem oferecer riscos à saúde dos alunos, familiares, equipe pedagógica e sociedade em geral.

2 OS DESAFIOS DA DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

A educação pública brasileira sempre enfrentou dificuldades devido ao baixo investimento na área. Com a abrupta suspensão das aulas presenciais o cenário ficou ainda mais disforme devido ao despreparo dos envolvidos para com a educação na modalidade EaD (Educação a Distância).

Das dificuldades das quais tomei conhecimento através de diálogos com colegas professores, as mais apontadas foram: comunicação com alunos que não tem acesso à internet, conciliar a rotina doméstica com a rotina profissional e utilização das ferramentas online.

Segundo a Mariana Tokarnia (2020), uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet (cerca de 46 milhões de brasileiros). Os dados se referem ao último trimestre de 2018 e apontam que alguns dos motivos por trás desse número são a falta de conhecimento quanto à utilização da mesma e o custo elevado dos equipamentos (celulares, tablets, etc.). Com essas informações, vem o questionamento: se em uma turma de 28 alunos, 7 não tem acesso à internet, como o docente irá orientar esses 7 alunos?

Conversando com professores e amigos, foram recebidas as informações a seguir, que se referem as práticas adotadas nesse período.

Para tentar contornar a situação e fornecer atendimento a todos, têm sido disponibilizadas atividades impressas, livros didáticos e de literatura para que os alunos que não dispõe de acesso à internet os possam buscar nas escolas e manter seus estudos de alguma forma. Todavia, essa medida revelou-se insuficiente, pois muitos não buscam os materiais, há lentidão no processo transporte dos mesmos, não há uma interação constante entre as partes interessadas e as famílias informam dificuldades ao orientar e acompanhar os estudos dos filhos, pois possuem outras preocupações causadas pela pandemia (como o sustento da casa, já que muitos são trabalhadores informais) e/ou exercem outras atividades laborais que nem sempre tem ligação com a profissão de educador. Há mais um fator preocupante que ficou ainda mais evidente nesse período: a inexistência e falta de incentivo ao hábito da leitura. Com as aulas presenciais, os professores e os próprios colegas serviam como incentivadores desse hábito que deveria ser mais comum, mas infelizmente não é.

Além da preparação do material impresso, os docentes têm preparado materiais para estudos em meios digitais. Os alunos que dispõe de acesso à internet dispõe de aulas gravadas e/ou ao vivo e uma interação muito mais rápida e eficaz. Através desse contato direto com os discentes, o professor consegue adaptar seu conteúdo e metodologia às necessidades de seus alunos de forma rápida e assertiva, além de estimular o hábito da leitura, o que será tão vantajoso nesse momento, quanto futuramente. Entretanto, isso tem um preço para o docente.

O professor, mesmo dispondo de horas-atividade, acabam levando algum trabalho para casa. Contudo, quando está dando uma aula presencial, o educador se sente mais confortável e focado na atividade que desempenha por estar preparado e em um local adequado. O mesmo não acontece quando esse mesmo professor se encontra em casa, sofrendo a tensão provocada pela pandemia e em companhia de filhos e outras distrações. O docente que tem filhos em idade escolar sofre com a sobrecarga de ser pai/mãe e professor simultaneamente. O planejamento de aulas, atividades e gravações acabam sendo feito na madrugada, para que não haja interrupções, ou, durante o dia com interrupções diversas para que outras funções sejam exercidas. Independente da hora escolhida para realizar as tarefas laborais, o resultado é desgaste emocional e fadiga mental e física.

Em função da pandemia que provocou essas mudanças emergenciais na educação brasileira, não houve tempo para que os educadores providenciassem ferramentas, capacitação e ambiente adequado para realizar seu trabalho. Apesar de os municípios e Estados terem logo disponibilizado cursos de formação para ajudar os docentes nessa transição, há professores, geralmente os formados a mais tempo, que apresentam maiores dificuldades ao trabalhar com as ferramentas disponibilizadas e/ou não possuem os equipamentos (computadores, câmeras, etc.) adequados para utilizar as ferramentas disponíveis. Diversos são os desafios ao trabalhar dando aulas remotas. O professor precisa superar o desconforto de estar frente à câmera para gravar e/ou transmitir ao vivo a aula, o que é difícil já que precisa achar um ambiente adequado no próprio lar. Ao gravar, é preciso editar o vídeo, o que exige um certo domínio das tecnologias atuais, e ainda necessita de tempo, que já não tinham muito anteriormente e agora tem ainda menos.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos diálogos com colegas e leituras de materiais em meio digital, foi possível chegar à conclusão de que as medidas tomadas de modo a manter a educação nesse cenário pandêmico, sobrecarregou os profissionais da educação de diversas formas. Entende-se que por se tratar de uma situação atípica, as decisões foram tomadas em caráter emergencial e buscavam manter o direito à educação e a preservação do calendário estudantil. No entanto, não se pode ignorar as condições de trabalho atuais dos professores da rede pública. Adaptar os conteúdos, que já estavam programados, para a modalidade EaD; produzir conteúdo especial para alunos que não usam internet; interagir com alunos e suas famílias através da internet; aprender a utilizar ferramentas de edição, gravação e divulgação de vídeos em meio digital; vencer barreiras pessoais para gravar/transmitir a si mesmos para seus educandos, eis apenas alguns dos desafios enfrentados por docentes de língua portuguesa da rede pública durante a pandemia de Covid-19.

4 REFERÊNCIAS

AQUINO, Vanessa; MONTEIRO, Natália. Brasil confirma primeiro caso da doença. 2020. Disponível em: <https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46435-brasil-confirma-primeiro-caso-de-novo-coronavirus>. Acesso em: 30 jun. 2020

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.

ESTRELLA, Bianca; LIMA, Larissa. CNE aprova diretrizes para escolas durante a pandemia: proposta passou por consulta pública e foi votada na tarde desta terça-feira. 2020. Disponível em: <https://bit.ly/2Bhqgmp>. Acesso em: 30 jun. 2020.

MONTEIRO, Sandrelena da Silva. (Re)inventar educação escolar no Brasil em tempos da covid-19. Revista Augustus, Juiz de Fora, v. 25, n. 51, p. 237-254, 2020.

OLIVEIRA, Joana. Em meio à rotina de aulas remotas, professores relatam ansiedade e sobrecarga de trabalho: Com jornadas duplas e até triplas, educadores das redes pública e privada enfrentam desafios técnicos e emocionais para cumprir seu ofício em tempos de pandemia. 2020. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2020-05-21/em-meio-a-rotina-de-aulas-remotas-professores-relatam-ansiedade-sobrecarga-de-trabalho.html>. Acesso em: 04 jul. 2020.

SOUZA, Ludmilla. Educação domiciliar durante a quarentena tem sido desafio para pais: Escolas também estão se reinventando para continuar atividades. 2020. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2020-04/educacao-domiciliar-durante-quarentena-tem-sido-desafio-para-pais>. Acesso em: 30 jun. 2020.

STINGHEN, Regiane Santos. Tecnologias na educação: Dificuldades encontradas para utilizá-la no ambiente escolar. 2016. 32 f. TCC (Especialização em Educação na Cultura Digital) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016.

TOKARNIA, Mariana. Um em cada 4 brasileiros não tem acesso à internet, mostra pesquisa: número representa 46 milhões que não acessam a rede. Número representa 46 milhões que não acessam a rede. 2020. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-04/um-em-cada-quatro-brasileiros-nao-tem-acesso-internet>. Acesso em: 30 jun. 2020.

—————— . Estímulo às crianças pode ajudar o Brasil a criar novos leitores: no Dia do Leitor, especialistas destacam importância do hábito de ler. 2020. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2020-01/estimulo-criancas-pode-ajudar-o-brasil-criar-novos-leitores>. Acesso em: 30 jun. 2020.

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