Anões de chuteiras…mesmo sem Branca de Neve, sete anões do Pará se uniram para criar um conto de fadas bem particular. Na fábula tupiniquim, a mina foi substituída por um campo de futebol.
No lugar das pequenas picaretas, os protagonistas têm como instrumento de trabalho mini-chuteiras. Gigantes do Norte, eis o primeiro time de futebol de anões do mundo.
O zagueiro Capacidade, 1,38 metro, conta que o batismo foi sugestão de um ouvinte de uma rádio de Belém. “Começamos com sete anões, mas muitos outros quiseram entrar na equipe.
Veio gente de outros municípios e agora somos 19″, diz ele, bem-humorado.
O sucesso da idéia acabou com a piada. O grupo havia sido formado com o objetivo de fazer apresentações antes das partidas do Tuna Luso, equipe profissional de Belém que apóia os Gigantes.
Mas agora é a equipe profissional que deve aos pequenos agradecimentos pela notoriedade. Os dois times dividem até o técnico, Carlos Lucena.
Os dribles e embaixadas dos nanicos roubaram os torcedores paraenses. A habilidade dos anões garante um show à parte nas disputas. O problema é encontrar adversários à altura.
Paulistas criam o primeiro rival dos Gigantes
O pioneirismo do time obriga os Gigantes do Norte a massacrar todas as escolinhas de futebol infantil do Pará.
“Nós temos mais experiência e habilidade, mas nossa perna é curta, então qualquer corridinha dos jogadores de escolinha matam a gente”, conta o atacante Robinho, de 1,35 m.
O time de anões do Pará também enfrentou uma equipe de portadores de necessidades especiais, o Visagentos, e aplicou uma goleada de 8 a 1, diante de 3 mil pessoas no Estádio Paroquial de Bragança.
Mais difícil que correr 90 minutos em campos de dimensões oficiais, para os anões paraenses, é encontrar time disposto a concorrer.
“Todo mundo só torce pra gente. Até quando jogamos no campo do adversário, a torcida é só nossa”, conta Capacidade.
Mas a falta de adversários está prestes a acabar. Inspirado no exemplo do Gigantes, São Paulo também ganhou seu próprio time de anões.
E o Little Boy já nasceu cheio de marra. O jogador Pedro Moura, que já chegou a trabalhar como assistente de Branca de Neve, desafiou o Gigantes para um mata-mata de anões.
A distância que separa os dois times ainda é um problema, mas os técnicos buscam patrocínio para realizar o mini-clássico. “Nosso sonho mesmo é fazer o jogo no Maracanã”, suspira Robinho.
Cartolinhas sonham com Brasileiro de anões
Os cartolinhas vão além: já planejam um Campeonato Brasileiro de Anões. “Esperamos que cada estado monte seu próprio time de anões, assim poderíamos nos enfrentar e fazer o primeiro campeonato de futebol de anão do mundo”, sonha Capacidade.
Disposição não falta aos anões, mas patrocínio, sim. No Pará, o Tuna Luso definiu uma cota mensal de R$ 2.500 para os empresários interessados em apoiar o projeto dos Gigantes, garantindo estrutura esportiva, médica e educacional e um salário mínimo mensal aos atletas.
A grana é curta, e a maioria dos anões têm dois empregos, como Robinho, que ganha a vida como palhaço de circo quando não está nos gramados. Outros tiram proveito da fama e cobram R$ 40 por apresentações particulares de embaixadinhas para os fãs endinheirados.
O futebol é de alto nível, mas a estatura é baixa. O goleiro da equipe, Telmo Ferreira, é o mais alto, com 1,40 m – quase metade da altura do travessão: 2,40 m.
Com todo esse porte, não há confecção esportiva que dê jeito. Chuteiras, camisas, meiões e calções só em lojas infantis, e mesmo assim ficam grandes.
“A gente corta um pedaço e enfia a camisa pra dentro, mas o problema mesmo é a chuteira”, reclama Capacidade.
Enquanto o dinheiro não vem, os mini-craques improvisam. Mas o uniforme bagunçado não é suficiente para intimidar as maria-chuteiras, brincam os atletas.
Homem pequeno, elas pegam no colo. E os anões capricham no visual. Graças às trancinhas, Vagner Love tornou-se o galã da turma e ganhou o apelido do jogador da seleção.
Então destaca-se como o craque do time. Mas todos capricham antes de entrar em campo e buscam semelhanças com outros jogadores e artistas.
O Gigantes tem Paulo Nunes, Chimbinha e Mineiro. “Já tem muita maria-chuteira, mas eu não dou atenção, não. Agora tenho que me concentrar na carreira”, esnoba chuteiras.