Disneylândia pornô

Disneylândia pornô, confesso que cheguei tímida. Era uma das poucas mulheres sozinhas a visitar a Erotika Fair, em São Paulo. A maioria do público foi formada por grupos de homens e muitos casais.

O local estava dividido em dois pavilhões de exposições: um de sex shops e outro de putaria. Já tinha entrado num sex shop antes, mas nunca com tanta variedade.

Havia vibradores de todas as cores e tamanhos, além de acessórios para quem gosta da coisa mais agressiva, como chicotes, dos com pontas de metal aos mais delicados, algemas de tornozelo, pulso e dedos, com ou sem extremidades agudas. Ui.

Na frente da loja sadomasoquista, localizava-se uma de fantasias, cujo recepcionista era um cara meio gordo, vestido de gladiador, sentado e com cara de tédio.

Personagens, aliás, não faltavam. Em várias lojas as pessoas eram recepcionadas por “modelos” fantasiadas, sempre de fio-dental, com aquelas bundas sem celulite que intrigam qualquer mulher mais normal.

Eram coelhas de fio-dental, Eva de fio-dental, mulher-fardada de fio-dental. Da maioria das fantasias saía algum tipo de rabo, seja de pelúcia ou de lantejoulas.

Além de acessórios como calcinhas comestíveis, géis que esquentam, esfriam e tiram bafo, existiam produtos inusitados, como a cápsula do prazer.

Trata-se de uma bolinha que a mulher coloca na vagina e que se desfaz na hora do sexo. “Não é comestível”, alertava a bula. Além de lubrificar, ela inunda o ambiente com uma fragrância.

São perfumes de marcas conhecidas, como Dolce & Gabbana, Armani e Calvin Klein. Se o cara for alérgico, ferrou. A parceira se transforma na própria mulher-sachê.

Ainda no pavilhão de lojas, montaram um espaço para cursos. Entre os workshops, estavam massagens, strip-tease e pompoarismo.

Nas aulas, predominavam casais que ouviam atentamente sobre técnicas que aumentam, em nem sei quantas vezes, o prazer.

Outras que retardam, em não sei quanto tempo, o orgasmo. Há ainda outro método que promete decapitar o pênis. Sem pânico.

A professora explicou que a técnica milenar, utilizada por orientais e, pasmem, por índias, propõe uma pressão na ponta do órgão masculino e não a mutilação de fato.

O ápice foi quando a mestra perguntou se alguém já tinha se iniciado na prática. Na hora, uma menina levantou a mão, meio tímida, e soltou: “Eu. Minha mãe me ensinou…” Família moderna é outro papo.

“Você quer ser vendado?”

Na passagem de um pavilhão a outro, havia a parte artística do negócio. Entre quadros e esculturas eróticas, era possível ver também um original cinto de castidade.

Feito de metal, somente com dois orifícios pequenos com bordas pontiagudas, o artifício foi moldado de modo a desencorajar qualquer tentativa de relação sexual. Na altura da cintura, ao lado do cadeado, um coração enfeitava o apetrecho.

O segundo pavilhão era a Disneylândia pornô. Foi destinado a shows e brincadeiras eróticas. Em uma das casinhas, uma loira, nua e escultural, exibia-se no pole dance.

Entre os espectadores, eu era a única mulher. Cerca de 20 homens, todos com câmeras a postos, disputavam o melhor ângulo. Minha maior preocupação era a de não sair no fundo de alguma imagem.

Como sou alta, fiquei atrás de todos, meio que escondida e abaixada. Que situação.

Esse também foi meu medo no estande de sexo explícito. Só que lá, o público estava dividido entre homens e mulheres, a maioria, casais. Alguns com as mãos bem agitadas entre as cadeiras.

erotica2

Outros estandes propunham brincadeiras individuais. Na porta, a recepcionista faz duas perguntas básicas, independentemente do sexo do visitante. A primeira, se deseja ser vendado. A maioria quer. A segunda, se a pessoa prefere brincar com homem ou com mulher.

Primeiro, tentei entrar meio blasé, para ficar só na observação. Não deixaram. Só saberia mesmo o que rola na cabine se eu me aventurasse. Fui.

Entrei sem venda e com um homem. Sentei numa cadeira branca de plástico, dessas encontradas em supermercado e que se empilham, e o cara começou a dançar, de sunga.

Por mais apolíneo que fosse, mantive total distância, ainda mais quando imaginava em quantas meninas – ou meninos! – o cara já tinha se esfregado naquele dia.

Resolvi espiar na cabinezinha ao lado, onde um homem de meia idade vendado estava loucaço por uma loira em seu colo. Puxei papo com meu amigo striper, que me contou as regras.

Em primeiro lugar, são apenas cinco minutos. Depois, o visitante pode por a mão onde quiser, mas o dançarino está proibido de agarrar as pessoas. E por fim, em nenhuma hipótese podem transar lá dentro.

“Calma nada, sua gostosa”

Ainda nas brincadeiras individuais, havia uma sala com a tigresa. Na porta, uma fila de homens aguardava a vez dos cinco minutos com a felina.

Sua fantasia era composta de fio-dental modelo oncinha, unhas vermelhas enormes, saltos maiores ainda, chicote em punho e, claro, um rabo comprido de pelúcia que saía do topo da calcinha. Nenhum dos caras da fila me deixou observar.

Pelo contrário, alguns, quando viam “imprensa” no crachá, nem olhavam na minha cara. Desconfio que eram casados.

Além das brincadeiras individuais, havia também as coletivas, e nessa altura, eu já não estava mais sozinha. Calma, não arrumei nenhum bofe.

Encontrei a assessora de imprensa da feira e uma jornalista da revista Vogue. Entramos num estande de fantasias eróticas, ou melhor, de esfrega-esfrega.

A assessora foi a cobaia, entrou vendada. A outra jornalista e eu seguimos para olhar. Já no corredor, um bombado colou em mim e começou a encoxar.

“Moço, tenha calma. Tô só olhando”, eu disse. “Calma nada, sua gostosa. Você deveria ter medo do que posso fazer contigo”, ele respondeu. Cinco minutos e alguns metros de encoxação depois, saímos do lugar.

No final, como toda mulher, passei em uma das lojinhas. Era o estande da Daspu, marca que pertence às prostitutas cariocas e cujo nome faz um trocadilho divertido com a famosa loja paulistana.

A grife vende camisetas descoladíssimas, e uma delas agora está no meu armário. Ao sair, dei uma espiada no vidro, que tinha um adesivo com uma frase oportuna: “Pra que levar a vida a sério, se todos nascemos de uma gozada?”

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