A playlist escondida dentro da autobiografia de Rita Lee: as músicas que fizeram a cabeça da maior roqueira do Brasil.
Autobiografia de Rita Lee esta na lista de livros mais vendidos no Brasil desde que foi lançada, há apenas três meses, “Rita Lee, uma autobiografia” (Globo Livros) conta, pelo ponto de vista privilegiado e divertidíssimo da autora, a trajetória da artista que foi a mulher a vender mais discos no país.
Nascida em São Paulo, filha de um pai americano rígido e excêntrico e mãe brasileira e muito musical e religiosa, cercada de cinco mulheres, entre as irmãs e parentes que viviam com a família, Rita Lee Jones teve uma infância cheia de histórias de som e fúria.
O início com Os Mutantes, considerada uma das melhores bandas brasileiras de todos os tempos, a conturbada e até hoje mal explicada separação do grupo, as mágoas e ranços da época: está tudo descrito por ela sem freio na pena.
Histórias deliciosas de como conseguia seus figurinos, como bolava o repertório, como nasciam as músicas, viagens — as físicas e as lisérgicas —, o nascimento dos filhos, o sucesso, o fracasso do corpo: a narrativa de Rita Lee é leitura magnética, divertida e impressionante, do início ao fim.
Quem iria imaginar que, só para citar histórias de pé de página, ela foi da mesma sala de aula de Regina Duarte, que já roubou duas cobras do ídolo Alice Cooper, que foi escolhida pelo próprio Mick Jagger para abrir um show dos Rolling Stones, que tinha um avô índio cherokee, que criava onças em casa, que pôs Adriana Calcanhotto nua em pelo num de seus shows, que já “caiu do céu” literalmente ou foi a precursora da moda da apresentadora Hebe Camargo de beijar os convidados na boca? Aliás, que a própria Hebe Camargo lhe salvou a vida três vezes?
Entre uma história e outra, entre um porre e um flerte, um disco e uma declaração de amor, a compositora vai deixando escapar quais canções marcaram sua história pessoal, sempre com algum causo desses bons de contar aos amigos.
Fizemos uma seleção de 15 delas – uma espécie de “playlist” escondida dentro do livro, misto de memórias e sensações da maior roqueira do Brasil. Não será surpresa se a obra em breve se tornar um musical…
- Elvis — “Hound dog”: Rita Lee foi fã de Elvis desde sempre. Esta música tem uma memória especial no livro: ela lembra que foi a canção que flagrou a amiga Elis Regina cantando na sua então casa de serra, na Cantareira, enquanto imitava o próprio Elvis. As duas de pileque, morrendo de rir daquele show de calouros involuntário.
- The Beatles — “I wanna hold your hand”: Num dos primeiros programas de TV que Rita Lee participou com os irmãos Sergio e Arnaldo Batista, ainda como “Os bruxos”, uma formação pré-Mutantes — o “Astros do disco”, da Tv Record — escolheram esta música para cantar.
- Rolling Stones — “Walking the dog”: O primeiro álbum dos Rolling Stones (“Rolling Stones”, de 1964) foi também o primeiro disco que a cantora comprou com o próprio dinheiro. Rita conta que ficou horas na fila da loja de discos “Hi-fi”, na Rua Augusta, em São Paulo, à época, a mais tradicional, para conseguir adquiri-lo.
- Tim Maia cantando “Reach out, I`ll be there” — The Beatles: A estreia d’ Os Mutantes num programa de Tv foi no “Quadrado e Redondo”, da Tv Bandeirantes, com Rita vestida de índia e usando minissaia. O trio fez backing vocal para Tim Maia na canção. O cantor acabava de voltar dos Estados Unidos, de onde fora deportado pro porte de heroína.
- Nana Caymmi cantando “Bom dia” de Gilberto Gil: Canção que acabou fazendo com que Os Mutantes fossem apresentados ao autor numa gravação de TV, no encontro que mudou todo o rumo da história de Rita Lee — e a da música brasileira.
No camarim para acompanhar a gravação de sua música, Gil impressionou-se com a parafernália do trio e os convidou para cantar “Domingo no parque” com ele, parceria que chamou a atenção do país para o grupo.
- Jorge Ben — “A minha menina” – Rita Lee assistiu Jorge Ben compondo essa canção “em cinco minutos” na sua frente. Às vésperas de gravar o primeiro LP solo do grupo, Rita Lee conta que bateu no apartamento do compositor para implorar a ele uma canção. Ele estava acompanhado, mas não fez-se de rogado, puxou o violão e fez o hit.
- “Adeus Maria Fulô”— cancioneiro popular: Era a música que a mãe de Rita sempre tocava ao piano quando as filhas eram crianças.
Rita escolheu a canção para o primeiro disco d’ Os Mutantes, e na gravação usou um pequeno instrumento que dois palhaços famosos na época (“Torresmo” e “Fuzarca”) usavam, feitos de tampinhas de garrafa.
- Tom Zé — “2001”: A letra da música gravada por Rita Lee com Os Mutantes, um dos clássicos do grupo, surgiu da lata do lixo.
Foi onde o produtor musical Guilherme Araújo achou a poesia escrita por Tom Zé, num papelzinho amassado. Mostrou a Rita e disse: “Espia só se não é uma ideia genial para você fazer um rock”
- Georges Moustaki — “Joseph”: Certo dia, a mãe de Rita, Chesa, atendeu o telefone em casa e era Nara Leão querendo falar com a cantora. No livro, Rita conta que quase caiu da cadeira. Nara queria dar a ela uma versão sua em português da canção, feita especialmente pensando nela, a quem imaginou cantando a canção “vestida de anja”.
- Jorge Ben — “Rita Jeep”: De tanto dar carona para ele voltar para casa em seu Jeep herdado do pai, que tinha um capô todo psicodélico, pintado de salmão, nos tempos em que ambos ensaiavam um projeto da empresa Rhodia juntos (um desfile-show, em parceria com a gravadora Philips), o amigo Jorge Ben compôs para ela a canção “Rita Jeep”.
- Hebe Camargo — “Só de você”: Rita cita esta canção boas vezes ao longo do livro, como parte das boas lembranças guardadas da amiga e apresentadora Hebe Camargo, a quem conheceu ainda criança, num show no meio da rua.
Hebe costumava cantar esta música para Rita quando a compositora participava de seus programas de TV, e chegou a gravar a canção em um de seus últimos discos.
- Raul Seixas — “Bruxa amarela”: Também composta especialmente para ela por Raul, tem os versos “Aprendi a ler no rosto/ O que as pessoas não querem me dizer/ Aprendi a ler na alma/ O que as pessoas não podem me esconder/ Duas horas da manhã eu abro a minha janela/ E vejo a bruxa cruzando a grande lua amarela/ E vou dormir quase em paz!”
- Alice Cooper — “Killer”: Ao ver que o ídolo sacrificava pirotecnicamente duas jiboias num dos shows do álbum homônimo que fez no Brasil, o qual ela assistiu dos bastidores, Rita não teve dúvida: salvou os bichinhos, levando-os para casa, onde os mantinha num imenso aquário aquecido, sendo alimentados por ratos semanalmente — e de onde fugiram…
- Ney Matogrosso — “Bandido corazón”: Rita conta que adorava esta canção: foi num show em que Ney cantava esta música que ela, ao visitar o amigo no camarim, conheceu o namorado Roberto de Carvalho, o guitarrista de Ney e seu marido até hoje.
- Rolling Stones — “Fool to cry”: Foi a música que cantou ao telefone para o então namorado Roberto de Carvalho para contar a ele que estava grávida do primeiro filho, Beto Lee.
Excelente matéria. Parabéns à autora. RITA é demais! Ela merece tudo de bom.
Li a biografia da Rita Lee em três dias. Recomendo. Pela sinceridade e historia de vida. Deus teve compaixao dela.
Rita Lee
Embalou minha adolescência minha vida
Meus amigos minhas festas,
Ameio o playlist o livro deve ser demais vou adquirir.
https://open.spotify.com/user/12156014694/playlist/4y9bPuGDqeMLBHNBgOQ5x7
Li o livro em seis dias .Ela foi herói dá resistência e aquele ditado “difícil é ser eu” cabe justo nesta artista plena
A playlist está no Spotify?